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21/07/2009

Manguezal intacto vale 40 mil por hectare, por favorecer a pesca!

Pesquisa na Califórnia mostrou que área de vegetação é berçário para espécies.
Valor real do ecossistema em potencial pesqueiro é 600 vezes maior que o oficial.


Os manguezais do mundo podem valer muito mais para o bolso e para a biodiversidade do que os preços irrisórios pelos quais essas áreas são vendidas para os especuladores imobiliários. Uma pesquisa feita pelo pesquisador Octavio Aburto-Oropeza, do Instituto Scripps de Oceanografia (Califórnia, EUA), mostrou que as capturas pesqueiras no oceano Pacífico, na região do golfo da Califórnia, é sempre diretamente proporcional à quantidade de manguezais intactos. Cada hectare de manguezal traz dividendos de pesca equivalentes a US$ 40 mil por ano, afirmam os pesquisadores -- cerca de 600 vezes mais do que o valor dado a essa terra pelo governo mexicano. A pesquisa está na revista científica "PNAS"


Notícia do G1 (globo.com)

19/07/2009

GEF Mangue recebe US$ 20 milhões



O Projeto GEF Mangue, que visa a conservação e uso sustentável da biodiversidade de manguezais em áreas protegidas no Brasil, começa a ser implementado este ano. Cinco áreas nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste irão receber US$ 20 milhões do governo brasileiro e de instituições internacionais para ações de preservação do ecossistema e geração de renda. O recurso vai financiar, por quatro anos, oficinas de capacitação, revisão da legislação ambiental e atividades econômicas sustentáveis. A iniciativa é uma cooperação técnica entre o Ministério do Meio Ambiente – MMA, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud e GEF (Fundo Global para o Meio Ambiente, na sigla em inglês), entre outras instituições.

Estima-se que o Brasil abrigue em torno de 9% dos manguezais do mundo. Estas áreas são, junto com os recifes de corais, os maiores berçários do ecossistema marinho e fazem uma interface entre o ambiente costeiro e o marinho. Mesmo assim, encontram-se ameaçados devido a fatores como a carcinicultura desordenada e ilegal, a expansão de áreas urbanas, turismo e pesca predatórios, além de poluição por petróleo e esgoto.

Os manguezais ocupam 13,4 mil quilômetros quadrados do território brasileiro - o equivalente a quase metade da área de Alagoas - e abrigam cerca de 800 espécies de plantas, moluscos, peixes e aves. As regiões piloto do GEF Mangue somam 5.680 quilômetros quadrados, o que significa metade de toda a região de mangue do país.

Maria Carolina Hanzin, uma das coordenadoras do GEF Mangue, informa que o GEF Mangue será implantado em cinco mosaicos de unidades de conservação: Reentrâncias Maranhenses, Delta do Parnaíba, no Piauí; estuário do Rio Mamanguape, na Paraíba; Mosaico de Unidades de Conservação do litoral de São Paulo e Paraná e Reservas Extrativistas Marinhas do Pará. A expectativa é que posteriormente a experiência seja aplicada em outros manguezais.

As áreas serão trabalhadas em projetos específicos, de acordo com as peculiaridades de cada região. No litoral do Maranhão, por exemplo, em uma área de 2,5 milhões de hectares e que compreende 16 municípios, será elaborado um zoneamento ecológico e econômico e fortalecido o Conselho da Área de Preservação Ambiental. No Piauí, o foco é o manejo do caranguejo-uçá, espécie muito explorada na região, bem como a identificação de alternativas econômicas à criação do crustáceo.

Na Paraíba, as iniciativas são para gestão integrada de recursos hídricos e costeiros e, no Pará, por exemplo, para a implantação de uma gestão ecossistêmica de pesca que abranja nove reservas extrativistas. Por fim, São Paulo e Paraná devem abrigar projetos de fortalecimento de instrumentos econômicos e mecanismos financeiros para sustentabilidade das UCs.

Dos US$ 20 milhões previstos para o programa, US$ 5 milhões devem vir do GEF e US$ 15 milhões do governo brasileiro, por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – Ibama, do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Chico Mendes. A quantia deve começar a ser liberada no primeiro trimestre deste ano.

Fonte: MMA.

De onde vem o nome Mangue???


Muito já se falou e escreveu sobre a origem da palavra mangue (ou manguezal) e sobre a origem da palavra mangrove em inglês; quase tudo o que se disse não tem sentido. Esse substantivo coletivo designa um ecossistema formado por uma associação muito especial de animais e plantas que vive na faixa entremarés das costas tropicais baixas, ao longo de estuários, deltas, águas salobras interiores, lagoas e lagunas. O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (1952) diz que mangue é "palavra de origem obscura", e, de fato, ela não deriva nem do latim nem do árabe. O Grande Dicionário da Lingua Portuguesa dá a definição correta de mangue: "Solos pantanosos à margem de lagoas e estuários; margens pantanosas de rios e portos; mangues são florestas ao longo de rios até o limite superior atingido pela água do mar". Em francês, as árvores de mangue são chamadas de palétuviers, eo dicionário Petit Robert diz que a palavra foi usada pela primeira vez em 1614 e que deriva de appariturier, que, por sua vez deriva da expressão tupi apara-hiwa (árvore torta, onde apará quer dizer árvore). O termo para mangue ou manguezal em tupi-guarani é guaparijitiba ou guaparahyba, onde gua quer dizer baía, pará mar ou grande rio (estuário) e ybá árvore - uma boa descrição de mangues. O mistério foi finalmente resolvido em conversa com o Dr. E.S. Diop, do Senegal, que me disse que, em sua língua materna, o wolof, lingua nacional do Senegal, mangue é como se chamam os manguezais, sendo a pronuncia exatamente igual à do português. Acrescentou o Dr. Diop que os povos dos "rios do Sul" (até Guiné-Bissau, por exemplo, no rio Geba) utilizam a palavra ou manglemangli. Aí está a explicação da palavra espanhola mangle. Nos ultimos anos da década de 1870 foi publicado um Manual para a Conservação das Terras Inúteis, sendo assim chamados os Suderbans, provavelmente a maior área do mundo de manguezais initerruptos, que ocupam os deltas fundidos dos dois grandes rios, o Ganges e o Bramaputra. O Nome, isto é, a Essência e a Forma, começa agora a ser mais bem compreendido através da pesquisa; esperemos que os manguezais do mundo venham a ser usados e gerenciados com mais e melhor critério. Os manguezais têm agora maior probabilidade de ser respeitados pelo que são.
Escrito por Marta Vannucci (Manguezais e Nós, 2002)