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11/06/2010

Manguezais estão na Lista Vermelha de espécies ameaçadas!

(Áreas de manguezais em todo o mundo)

De acordo com a primeira avaliação global sobre o estado de conservação dos manguezais realizado pelas organizações não-governamentais IUCN e Conservação Internacional (CI), mais de uma em cada seis espécies de manguezais existentes no planeta correm perigo de extinção devido, em parte, ao desenfreado desenvolvimento urbano em regiões litorâneas e costeiras, e à diversos outros fatores, incluindo as mudanças climáticas, o desmatamento e a agricultura.
Os estudos foram conduzidos pela Unidade de Avaliação Global de Espécies Marinhas (Global Marine Species Assessment Unit – GMSA), segmento que faz parte da Unidade de Avaliação da Biodiversidade, uma iniciativa conjunta da IUCN e CI, juntamente com os maiores especialistas em manguezais do mundo. Publicado na última semana no jornal científico PLoS ONE, a pesquisa mostra que 11 das 70 espécies de manguezais (16%) analisadas entraram na Lista Vermelha de Espécies Ameaçdas da IUCN. Os resultados da pesquisa mostram que as costas Atlântica e Pacífica da América Central se configuram como as regiões mais afetadas mundialmente, onde mais de 40% das espécies são consideradas ameaçadas de extinção.


(Manguezais da Bahia)

“A perda potencial dessas espécies é um sintoma da destruição e exploração generalizada das florestas de mangue,” afirma Beth Polidoro, pesquisadora associada ao GMSA na Old Dominion University e principal autora do estudo. “Os maguezais formam um dos mais importantes habitats tropicais que mantem diversas espécies de vida, e sua perda pode afetar a biodiversidade marinha e terrestre muito mais amplamente”, continua.

Berçários da vida marinha em perigo – Os manguezais nascem do encontro entre a água salgada e a costa em regiões tropicais e subtropicais, servindo como uma interface entre ecossistemas terrestres, marinhos e de água doce. Estima-se que as florestas de mangues sejam responsáveis por prover até 1.6 bilhões de dólares por ano em serviços dos ecossistemas.

Além de sua importância natural para a manutenção da vida nos oceanos, os manguezais também desempenham um importante papel no cotidiano de comunidades costeiras, protegendo estas localidades dos danos causados por tsunamis, erosões e tempestades, e servindo como berçário para peixes e outras espécies que garantem a subsistência costeira. Somado a isso, está a incrível habilidade que os manguezais possuem de sequestrar carbono da atmosfera, funcionando tanto como fonte quanto como repositório de nutrientes e sedimentos para outros habitats marinhos, como os leitos de águas marinhas e recifes de corais.
Proteção urgente é necessária principalmente para duas espécies de manguezais que estão classificadas como criticamente ameaçadas, ou seja, com maior probabilidade de extinção segundo a Lista Vermelha da IUCN. São elas: Sonneratia griffithii e Bruguiera hainesii.
A Sonneratia griffithii é encontrada na Índia e no sudeste da Ásia, onde 80% dos manguezais foram perdidos nos últimos 60 anos. Já a Bruguiera hainesii é uma espécie ainda mais rara, que cresce apenas em uma pequena parte da Indonésia, Malásia, Tailândia, Myanmar, Singapura e Papua Nova Guinea. Estima-se que existam menos de 250 árvores maduras restantes dessa espécie.

“A perda dos manguezais terá consequências devastadoras para a economia e o meio ambiente,” diz Greg Stone, vice presidente do Programa Marinho da Conservação Internacional. “Esses ecossistemas não são apenas um componente vital nos esforços contra as mudanças climáticas, mas também protegem algumas das populações mais vulneráveis do planeta de climas extremos, funcionando como fontes de comida e renda”, finaliza.


 

08/06/2010

Mangue contaminado há 10 anos na Guanabara não se recuperou!

O óleo praticamente acabou com a pescaria no município de Magé; todos os acusados no acidente foram absolvidos


Dez anos depois do vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara, o mangue de Ipiranga, município de Magé, parece um deserto de lama. A vegetação secou e nunca mais voltou. "Parece até que os culpados pela tragédia fomos nós. A punição só veio para a gente", diz o pescador artesanal Maicon Carvalho. Ele cata caranguejo nos manguezais da baía desde os 9 anos. Tinha 20 quando houve o desastre.
Todos os funcionários da Petrobrás acusados pelo Ministério Público Federal no processo que apurava responsabilidades pelo vazamento de óleo, em 18 de janeiro de 2000, foram absolvidos no ano passado.
"O óleo praticamente acabou com a pescaria. O camarão cinza sumiu e hoje eu preciso andar mais de 300 metros no que restou de mangue para pegar três dúzias de caranguejos pequenos. Antes, eram de seis a oito dúzias do grande fácil", conta. Ele seguiu a profissão do pai, mas não quer o mesmo para os dois filhos, Maxwel, de 10 anos, e Maicon Júnior, de 7.
Amigo de Carvalho, Ivan Nunes desistiu da pesca. Ele agora trabalha em uma obra de drenagem de rede de esgoto da Prefeitura do Rio. Ganha R$ 1.268. "O pessoal está migrando de profissão para sobreviver."
Carvalho só tem o ensino fundamental e, por isso, não consegue emprego em obras. Ele e o fundador da Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar), Alexandre Anderson, contam que até hoje só receberam R$ 750 da Petrobrás, referentes ao período de um mês em que a pesca ficou oficialmente suspensa. Segundo Anderson, o número de pescadores caiu pela metade desde então - eram 6 mil, diz, e hoje são menos de 3 mil. No entanto, em processo no Superior Tribunal de Justiça, 18 mil pedem indenização - a peticionária é a Federação dos Pescadores do Estado do Rio.
A Petrobrás alega que investiu R$ 450 milhões na última década em projetos ambientais e sociais na baía. Segundo a companhia, o programa para restabelecer a vegetação de manguezais na praia de Mauá e nas margens do Rio Estrela, na divisa de Duque de Caxias e Magé, com duração prevista até 2013, é o "maior do gênero no Brasil". Para Anderson, são projetos "de fachada", que ainda não trouxeram resultados.
"A Petrobrás tem uma enorme dívida com os pescadores. Além de não reconhecer o dano, vem impactando ainda mais a baía com novos empreendimentos como o Complexo Petroquímico do Rio e a ampliação da Reduc", afirma Anderson. Em abril do ano passado, a Ahomar conseguiu paralisar uma obra da empresa em Magé. Pescadores impediram a navegação de embarcações usadas na montagem de dutos, sob a alegação de que a obra inviabilizava a pesca.
Breno Herrera, analista ambiental do Instituto Chico Mendes (ICMBio), afirma que estudos indicam que serão necessários mais de 20 anos para a recuperação do mangue.

Felipe Werneck - O Estado de S.Paulo