Dez anos depois do vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara, o mangue de Ipiranga, município de Magé, parece um deserto de lama. A vegetação secou e nunca mais voltou. "Parece até que os culpados pela tragédia fomos nós. A punição só veio para a gente", diz o pescador artesanal Maicon Carvalho. Ele cata caranguejo nos manguezais da baía desde os 9 anos. Tinha 20 quando houve o desastre.
Todos os funcionários da Petrobrás acusados pelo Ministério Público Federal no processo que apurava responsabilidades pelo vazamento de óleo, em 18 de janeiro de 2000, foram absolvidos no ano passado.
"O óleo praticamente acabou com a pescaria. O camarão cinza sumiu e hoje eu preciso andar mais de 300 metros no que restou de mangue para pegar três dúzias de caranguejos pequenos. Antes, eram de seis a oito dúzias do grande fácil", conta. Ele seguiu a profissão do pai, mas não quer o mesmo para os dois filhos, Maxwel, de 10 anos, e Maicon Júnior, de 7.
Amigo de Carvalho, Ivan Nunes desistiu da pesca. Ele agora trabalha em uma obra de drenagem de rede de esgoto da Prefeitura do Rio. Ganha R$ 1.268. "O pessoal está migrando de profissão para sobreviver."
Carvalho só tem o ensino fundamental e, por isso, não consegue emprego em obras. Ele e o fundador da Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar), Alexandre Anderson, contam que até hoje só receberam R$ 750 da Petrobrás, referentes ao período de um mês em que a pesca ficou oficialmente suspensa. Segundo Anderson, o número de pescadores caiu pela metade desde então - eram 6 mil, diz, e hoje são menos de 3 mil. No entanto, em processo no Superior Tribunal de Justiça, 18 mil pedem indenização - a peticionária é a Federação dos Pescadores do Estado do Rio.
A Petrobrás alega que investiu R$ 450 milhões na última década em projetos ambientais e sociais na baía. Segundo a companhia, o programa para restabelecer a vegetação de manguezais na praia de Mauá e nas margens do Rio Estrela, na divisa de Duque de Caxias e Magé, com duração prevista até 2013, é o "maior do gênero no Brasil". Para Anderson, são projetos "de fachada", que ainda não trouxeram resultados.
"A Petrobrás tem uma enorme dívida com os pescadores. Além de não reconhecer o dano, vem impactando ainda mais a baía com novos empreendimentos como o Complexo Petroquímico do Rio e a ampliação da Reduc", afirma Anderson. Em abril do ano passado, a Ahomar conseguiu paralisar uma obra da empresa em Magé. Pescadores impediram a navegação de embarcações usadas na montagem de dutos, sob a alegação de que a obra inviabilizava a pesca.
Breno Herrera, analista ambiental do Instituto Chico Mendes (ICMBio), afirma que estudos indicam que serão necessários mais de 20 anos para a recuperação do mangue.
Felipe Werneck - O Estado de S.Paulo
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